As edições anteriores gravitaram em torno de motes, de lugares, de tempo e de memórias, para chegarmos a um espaço peculiar, ao domicílio conjugal, lugar de começos, encerramento ou retoma, um espaço interior e de intimidade, mas também um lugar de disputa, de olhos apontados ao mundo exterior, de questionamento das relações humanas.
Em destaque no palco do Close-up, os cine-concertos, lugares de cruzamento da música com o cinema: na abertura, assistiremos à estreia em Portugal de Dean Hurley, colaborador próximo do trabalho de David Lynch, dentro e fora dos filmes, na apresentação de Through This World; a meio da semana, no Teatro Narciso Ferreira, Bruno Pernadas (com banda) revelará It’s All True, um documentário de Orson Welles, rodado no Brasil, agora resgatado; a encerrar o programa, as melodias e as canções de James Bond, em Licence to Sing, The Songs from 007.
São diversos os domicílios conjugais que preenchem as Paisagens Temáticas: um casal de Jonas Trueba, num processo de divórcio abençoado pelas comédias de recasamento em Hollywood, em Volveréis; o reencontro de um par, em A Vida Entre Nós, a diluir os processos do tempo, numa cidade junto ao mar, no oeste de França; numa praia remota da Nova Zelândia, O Piano de Jane Campion, com Holly Hunter entre o marido Sam Neil e o vizinho Harvey Keitel; numa Nova Iorque simulada nas ruas de Londres, a obra derradeira de Stanley Kubrick, De Olhos Bem Fechados, que junta Nicole Kidman e Tom Cruise, um par que também o era fora da grande tela; em Ossos e Nomes, um escritor e um actor trazem para o domicílio conjugal as tensões da escrita de um romance e dos ensaios para um filme em construção; em Las Vegas, duas mulheres desafiam o mundo, a lei e o crime, em Amor e Sangue.
Desaparecido no início deste ano, David Lynch receberá uma homenagem nas Histórias do Cinema, traduzida na exibição de um ciclo de seis longas-metragens, que será ampliado numa das réplicas do Close-up. Além da presença de Dean Hurley, o programa dedicado ao cineasta será completado com a exposição A Estrada Não Tem Fim, numa parceria reiterada com o Museu de Cinema de Melgaço e o espólio deixado por Jean-Loup Passek. À boleia da estreia de Banzo, a protagonista da Fantasia Lusitana é Margarida Cardoso e uma filmografia de 25 anos orientada pelas heranças coloniais, num programa que incluirá uma masterclasse da cineasta.
Colocado no coração do Close-up, a relação com a comunidade escolar, e a formação dos espectadores do futuro, ocupa um lugar de destaque nesta décima edição, em sessões divididas pelos auditórios do Teatro Municipal e por sessões nas escolas. Em diálogo com o restante programa, haverá ficção, animação, documentário e oficinas, com propostas para todos os escalões de ensino, do primeiro ciclo ao ensino superior de cinema.
O Café Kiarostami será um lugar na órbita do cinema (e da televisão), com as masterclasses de Dean Hurley e de Edgar Medina, além das bandas sonoras, que estenderão as noites de abertura e fecho, sob a influência das estradas perdidas de Lynch. As propostas para Famílias, juntam Elio, que celebra 30 anos de animações da Pixar, aos renovados Looney Tunes: Daffy e Porky salvam o mundo, com espaço ainda para uma oficina de Teatro de Sombras, uma imagética que predestinou o cinema.
Um programa vasto, de mais de 30 sessões em oito dias. Um panorama intenso, mas que concede tempo ao diálogo entre filmes, assentes em diversas leituras e abordagens que decorrem da seleção de filmes e do encontro com o público, amplificado pela singularidade das apresentações das sessões, numa festa do cinema que ambiciona dialogar com toda a comunidade, com todos os públicos.