Ao décimo episódio, um close-up no domicílio conjugal, a paisagem temática mais secreta. Figura simbólica e espaço dramatúrgico, morada de narrativas íntimas onde se inscrevem discursos sociais, políticos, afetivos e estéticos. Mais do que arquitetura e espaço de arquivo - de memória performativa - o domicílio como uma instância de negociação - entre sujeitos, entre corpos, entre linguagens, uma fronteira permeável entre o que se revela e o que se oculta, uma geografia emocional em permanente reconfiguração.
Os filmes aqui reunidos - cada qual com as suas estratégias formais e éticas - propõem modos distintos de habitar e desestabilizar o domicílio conjugal. O deslizar de uma confissão noturna que desvela os subterrâneos do desejo e da fantasia. Uma máscara que cai, um silêncio que grita, um gesto que se repete, o corpo do outro como objeto de culto ou de punição, o som de um aspirador que atravessa o ensaio de uma cena romântica - como se já não houvesse lugar nem para a simulação de um afeto. O domicílio conjugal é o palco onde se encenam ternuras, abismos e pactos invisíveis. Ora local de refúgio e abrigo, ora campo de batalha e de conflito, tão complexo e labiríntico como a alma humana.
Hugo Romão
Ale e Álex (Itsaso Arana e Vito Sanz) vivem em Madrid, são casados e, até há pouco tempo, eram felizes juntos. Mas agora, passados quinze anos de partilha, estão ambos certos de que se querem separar. De forma a tirar o habitual peso daquele momento das suas vidas, têm uma ideia que deixa todos perplexos: organizar uma festa para celebrar o divórcio. Mas nenhum familiar, amigo ou colega de trabalho se deixa convencer de que aquilo seja um ponto final. Com assinatura de Jonás Trueba (“Têm de Vir Vê-la”), um filme que, como diz uma das personagens, “parece uma comédia, mas na realidade é um drama” sobre relações humanas e o fim do amor numa relação a dois.
No passado, Alice e Mathieu tiveram uma relação intensa que terminou abruptamente. Hoje, 15 anos volvidos sobre a separação, ele é um actor conhecido actualmente a viver em Paris; ela dá aulas de piano numa pequena cidade balnear no Oeste de França. O destino volta a juntá-los quando Mathieu, a atravessar uma crise emocional, decide passar algum tempo na cidade onde ela mora. Esse reencontro inesperado, vai fazê-los reflectir sobre tudo o que viveram, as feridas que causaram um ao outro, as saudades do que foram e as circunstâncias que os levaram àquele exacto momento. Estreado na 80.ª edição do Festival de Cinema de Veneza e com Guillaume Canet e Alba Rohrwacher como protagonistas, um drama romântico realizado e escrito por Stéphane Brizé – autor da trilogia “A Lei do Mercado” (2015), “Em Guerra” (2018) e “Um Outro Mundo” (2021).
No século XIX, após uma longa viagem desde a Escócia, a pianista Ada McGrath e a sua jovem filha Flora são deixadas com todos os seus pertences, incluindo um piano, numa praia remota da Nova Zelândia. Ada, que é muda desde a infância, foi vendida em casamento a um homem que recusa transportar o piano. Incapaz de suportar a sua destruição certa, Ada faz um acordo com um vizinho. Ela pode recuperar o piano se o deixar fazer certas coisas enquanto toca; uma tecla preta por cada lição. Uma Palma de Ouro em Cannes para "O Piano", colocaria o nome de Jane Campion na lista de incontornáveis do cinema mundial na década de 90. Jane Campion foi ainda distinguida com o prémio de melhor argumento original pela Academia de Hollywood; Holly Hunter ganhou o prémio de melhor actriz principal e Anna Paquin o de melhor actriz secundária, três das oito nomeações para os Óscares de 1994.
A derradeira obra de Stanley Kubrick, a partir de uma novela de Arthur Schnitzler. O filme, tornou-se um projecto pessoal do (então) casal Tom Cruise e Nicole Kidman, que se dedicaram de corpo e alma a encarnar um casamento em crise após a mulher revelar ter-se sentido atraída por outro homem. O marido decide-se então a experienciar a sensualidade e o risco do desejo para além das fronteiras da fidelidade. A mestria de Kubrick é posta majestosamente em cena num baile de máscaras orgíaco, clímax operático para as deambulações deste homem pelos seus próprios labirintos.
Boris e Jonathan são um casal há muitos anos. Mas a sua relação chegou a um ponto em que passam as suas noites juntos, mas separados: um deita-se na cama a ler, o outro trabalha na escrita do seu romance no quarto ao lado. Enquanto Boris se dedica cada vez mais aos ensaios de um novo filme com uma realizadora ambiciosa, Jonathan tenta redefinir a sua voz como escritor. A jovem sobrinha de Jonathan, Josie, está a tentar formas idiossincráticas de lidar com a aproximação do fim da sua infância. "Ossos e Nomes" retrata um grupo de pessoas que procura o seu lugar na relação com o mundo. Uma variação terna e humorística sobre as dissonâncias das relações humanas, que ora nos aproximam, ora nos afastam.
A história, que decorre em 1989, fala do amor entre Lou (Kristen Stewart), uma solitária gerente de um ginásio de beira de estrada, e Jackie (Katy O'Brian), que deixou a família em Oklahoma rumo a Las Vegas (no Nevada) e que se inscreve no ginásio de Lou determinada a tornar-se culturista profissional. Mas as duas acabam por se ver envolvidas num confronto entre a rede criminosa da família de Lou e os agentes do FBI, empenhados em capturá-los. Em competição no Festival de Cinema de Berlim, um “thriller” romântico recheado de violência, realizado por Rose Glass (“Saint Maud”), segundo um argumento seu e de Weronika Tofilska.