Fantasia Lusitana

Margarida Cardoso: Heranças Coloniais

A filmografia de Margarida Cardoso tem-se debruçado de forma consistente sobre a relação de Portugal com África e com o seu passado colonial, tanto em documentários como em filmes ficcionais.
Não é, pois, possível falar do seu percurso enquanto realizadora sem considerar este pano de fundo, que persistentemente se encontra entretecido nos seus filmes. Desde Natal 71 (1999), um documentário sobre a memória e a pós-memória da guerra colonial, a partir de Moçambique, até Banzo (2024), que nos remete para a presença portuguesa em São Tomé e Príncipe no início do século XX, encontramos esta recorrência temática. Entre um e outro, Margarida Cardoso revisitou a sua relação com África, particularmente com Moçambique, onde passou uma parte significativa da sua infância.
Em filmes como Kuxa Kanema - O nascimento do cinema (2003), sobre os primórdios do cinema moçambicano logo após a independência, a longa-metragem ficcional A Costa dos Murmúrios (2004), adaptação do romance de Lídia Jorge, que também aborda a guerra colonial e a presença portuguesa em Moçambique, e o documentário Licínio de Azevedo – Crónicas de Moçambique (2011), sobre o cineasta moçambicano, ou ainda Yvonne Kane (2014), longa-metragem ficcional em que o passado colonial e as lutas de independência se entrelaçam com o presente de Moçambique. Ou, ainda, abrindo o caminho para Banzo, em Understory (2019), um documentário que explora como o cacau interliga a história entre a Europa colonial e a África.

Margarida Pereira

A Costa dos Murmúrios

de Margarida Cardoso

Dia 15-10 15h00 (ESAP)
(Portugal, ficção, 2004, 115 min) M/12

No final dos anos 60, Evita chega a Moçambique para casar com Luís, um estudante de matemática que ali cumpre o serviço militar. Evita rapidamente se apercebe que Luís já não é o mesmo e que, perturbado pela guerra, se transformou num triste imitador do seu capitão, Forza Leal. Perdida num mundo que não é o seu, Evita apercebe-se da violência de um tempo colonial à beira do fim. Uma adaptação do romance homónimo de Lídia Jorge, que aborda um momento ainda doloroso e com muitas feridas abertas da História de Portugal.

Masterclasse

por Margarida Cardoso

Dia 16-10 11h30 (ESAP)
Presença de Margarida Cardoso

A partir do visionamento de A Costa dos Murmúrios (2004) e do recentemente estreado Banzo, a cineasta Margarida Cardoso dialogará com os alunos da Escola Superior Artística do Porto em torno da sua filmografia, designadamente sobre a temática das heranças coloniais.

Margarida Cardoso viveu em Moçambique até aos doze anos. Estudou Imagem e Comunicação Audiovisual na escola António Arroio, em Lisboa. Trabalhou vários anos em França e Portugal como fotógrafa e assistente de realização. Entre 1982 e 1995 trabalhou como anotadora e assistente de realização em mais de 50 filmes portugueses e estrangeiros. É desde 2005 professora do curso de Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia da Universidade Lusófona de Lisboa. O seu trabalho como realizadora começou em 1995, explorando temas que cruzam as suas experiências históricas pessoais e questões pós-coloniais proeminentes na história recente de Portugal, como a revolução portuguesa e a guerra colonial em África. O seu trabalho prévio inclui ficção e documentário, dos quais destacamos as longas-metragens "Yvone Kane" (2015), "A Costa dos Murmúrios" (Festival de Veneza, 2004), ou o documentário "Kuxa Kanema – O Nascimento do Cinema" (FIDMarseille e Visions du Réel, 2003). A sua mais recente longa-metragem é a ficção Banzo (2025).

Natal 71

de Margarida Cardoso

Dia 16-10 21h45 (PA)
Presença de Margarida Cardoso e Margarida Pereira
(Portugal, documentário, 2000, 50 min) M/12

Margarida Cardoso retoma o título do disco produzido pelo Movimento Nacional Feminino, um disco de propaganda oferecido pelo Natal aos militares portugueses em guerra no Ultramar com mensagens de cantores de fado, actores e jogadores de futebol a exaltar o sentimento nacionalista para lhes levantar a moral. Um documentário onde são apresentadas duas realidades distintas: a ficção da propaganda e a realidade da guerra colonial, acompanhadas por imagens da época e leituras de "Os Cus de Judas" (1979), de António Lobo Antunes, que traduzem o trauma de uma geração portuguesa.

Kuxa Kanema - O Nascimento do Cinema

de Margarida Cardoso

Dia 16-10 21h45 (PA)
Presença de Margarida Cardoso e Margarida Pereira
(Portugal, documentário, 2003, 50 min) M/12

Margarida Cardoso regressa a África e às memórias do colonialismo português e da independência dos países africanos de expressão portuguesa. "Kuxa Kanema" (literalmente, "o nascimento do cinema") retoma o nome dado ao jornal cinematográfico semanal da emergente República Popular de Moçambique para, através da história do Instituto de Cinema de Moçambique, dos seus filmes e das pessoas que nele trabalharam ou que a ele estiveram ligados pontualmente (foram os casos de Jean-Luc Godard e de Ruy Guerra), fazer também um pouco da história do nascimento de uma nação através das suas primeiras imagens.

Yvone Kane

de Margarida Cardoso

Dia 17-10 10h00 (Universidade do Minho)
Presença de Margarida Pereira e Márcia Oliveira
(Moçambique/Portugal/Brasil, ficção, 2014, 115 min) M/12

Depois de uma tragédia que lhe roubou a vontade de viver, Rita decide voltar a África, ao país onde cresceu, e reencontrar Sara, a sua mãe. Enquanto Sara vive os últimos dias da sua vida procurando encontrar um sentido para o seu passado, Rita decide investigar o percurso de Yvone Kane, uma ex-guerrilheira e activista política cuja coragem e determinação marcou várias gerações e cuja morte nunca ficou esclarecida. Porém, apesar dos esforços, nenhuma das duas parece conseguir a redenção de que necessita. Um filme escrito e realizado por Margarida Cardoso, que conta com Irene Ravache, Beatriz Batarda, Gonçalo Waddington, Mina Andala e Samuel Malumbe nos principais papéis.

Understory

de Margarida Cardoso

Dia 17-10 18h30 (PA)
Presença de Margarida Cardoso
Understory (Portugal, documentário, 2019, 80 min) M/12

Ensaio pessoal sobre uma planta e todas as suas ramificações culturais e económicas: o cacau. Viajando por São Tomé e Príncipe, Inglaterra e pelo Brasil, a realizadora passeia-se entre passado e presente, desmontando os esquemas da opressão colonial europeia e investigando as possibilidades de uma exploração justa da planta. E nos vários cantos do mundo, são as mulheres que provocam as mudanças. Uma História alternativa, que é uma her-story e uma understory.

Banzo

de Margarida Cardoso

Dia 18-10 15h00 (PA)
Presença de Margarida Cardoso e Márcia Oliveira
(Portugal, ficção, 2024, 125 min) M/14

A acção decorre num Portugal colonialista do início do século XX. Afonso, um médico da metrópole, chega a uma plantação de cacau em São Tomé e Príncipe, onde se depara com algo profundamente inquietante: vários trabalhadores que, depois de terem perdido o gosto pela vida, entregam-se à morte através de diversas formas de suicídio. Há quem nomeie aquele mal como “banzo” ou “nostalgia dos escravizados”. O dono da plantação, receoso de que a doença se espalhe, decide enviá-los para o meio da floresta para que possam morrer isolados. Preocupado, Afonso vai fazer os possíveis para compreender o problema e tirá-los daquela melancolia fatal.