Filmes-Concerto

Nas sessões de abertura e encerramento, com uma passagem pelo Teatro Narciso Ferreira, três filmes-concerto (ao vivo), com a noite de abertura como resposta a uma encomenda da Casa das Artes, um cruzamento reiterado entre a música e as imagens em movimento.

Noite de Abertura Estreia Filme-Concerto por Glockenwise

Melodia do Mundo

de Walther Ruttmann

15-10-2022 21h45 (GA)
Melodie der Welt (Alemanha, 1929, 50 min) M/6

Melodia do Mundo, estruturado como uma sinfonia, é uma impressão do estado do mundo no final dos anos 20, com contrastes e justaposições de imagens documentais. Uma série de actividades humanas representativas de diferentes culturas, com ocasionais cenas encenadas com actores, onde se exibem semelhanças e diferenças no quotidiano do trabalho, religião, costumes, arte e entretenimento. O filme será exibido em cópia digital restaurada com banda sonora executada ao vivo e em estreia pelos Glockenwise.

Nuno Rodrigues, Rafael Ferreira e Rui Fiúsa são os Glockenwise, um dos projectos mais interessantes da música portuguesa. Com um rock despretensioso, estreiam-se com o disco “Building Waves” (2011) e tornam as ideias mais densas em “Leeches” (2011) e “Heats” (2015). Mas a maturidade chegou, a urgência punk abrandou e, em 2018, surgem uns Glockenwise diferentes. Resultado dessa transformação, a língua portuguesa passa a assumir o protagonismo na banda e editam “Plástico” (Valentim de Carvalho), no qual há espaço para qualquer assunto nas suas canções, desde os gestos mais prosaicos do quotidiano até aos temas mais profundos.

Filme-Concerto por Haarvöl

O Gabinete do Dr. Caligari

de Robert Wiene

19-10-2022 21h45 (Teatro Narciso Ferreira)
Das Cabinet des Dr. Caligari (Alemanha, 1920, 75 min) M/12

Um dos maiores acontecimentos cinematográficos da História. Foi com O Gabinete do Dr. Caligari que o expressionismo alemão nasceu. O filme decorre no manicómio do Dr. Caligari que com os seus poderes hipnóticos comanda os seus doentes a seu bel-prazer. Um retrato desvirtuado e delirante que pretende refletir sobre uma Alemanha destroçada pela primeira Grande Guerra. Os seus cenários deformados, são um marco na história do cinema e pretenderam reflectir o olhar louco de Caligari sobre o mundo real.

A música de Haarvöl (desde 2012) é conceptualmente desenvolvida na exploração das propriedades dos sons, a fim de alcançar ambientes cinemáticos e de imagem. Os sons não estão restritos às suas origens mediais: tanto fontes digitais quanto analógicas são usadas e misturadas em composições complexas com atenção especial aos detalhes.

Noite de Encerramento Filme-Concerto por Miramar

Memorabilia

de Jorge Quintela

22-10-2022 21h45 (GA)
(Portugal, 2021, 60 min) M/6

Embora venham de diferentes latitudes e tenham experiências distintas, Frankie Chavez e Peixe estão unidos pelo seu trabalho com a Guitarra. Juntos já gravaram dois discos, o último, Miramar II, foi editado em Janeiro deste ano.

Ao vivo apresentam-se com imagens manipuladas em tempo real - Memorabilia - uma selecção de filmes de arquivo em 8mm, feita pelo realizador Jorge Quintela, destacando-se este “concerto-filme” na mútua inspiração a que ambos os universos (música - imagem) se proporcionam e que o público facilmente absorve.

Peixe começou a dar nas vistas há mais de vinte anos, ao assinar o som musculado e inconfundível dos míticos Ornatos Violeta, mas isso foi só o princípio de uma longa e rica viagem. Seguiram-se os Pluto, as experiências delirantes dos Zelig, as mais do que muitas colaborações e o resultado de todo o estudo e exploração das possibilidades do seu instrumento de eleição em dois grandes discos a solo – “Apneia” e “Motor”.

Frankie Chavez tem-se afirmado, desde que se estreou em 2010, como um dos mais estimulantes músicos da sua geração. Inspirado pelo Folk, pelos Blues e pelo mais clássico Rock tem levado – quer sozinho, quer acompanhado – a sua música cada vez mais longe, tudo muito à custa da relação singular que desenvolveu com aquilo que foi sempre o princípio de tudo: a Guitarra. A sua música é uma estrada que se percorre de forma contemplativa e que ora serpenteia até ao cume da mais alta montanha, ora se deixa ir planante, pelo calor preguiçoso do deserto, mas sempre a levar mais longe o som daquelas cordas que ressoam em diferentes caixas, com ou sem electricidade, e sempre como se os dois aqui fossem apenas um.